sábado, abril 30

Inquietações

Li algures que o conhecimento não é um bem absoluto. Concordo! Que há outras formas de existência para além das cognitivas. Concordo! Que a Ciência atingiu capacidades demiúrgicas. Inquietante! Que jeito teria dado a Hitler essa capacidade. Ter-se-iam poupado muitos judeus. Hoje a sua loucura estaria conseguida e ninguém a acharia tão tenebrosa.
Tudo se teria transmutado pacificamente.
Meios homens, meios máquinas…
Defender a dignidade Humana, preservando a sua identidade, face ao perigo eminente da sua artificialização.
Releio: meios homens meios máquinas.
E depois?
A meia parte máquina dava-me muito jeito. Não me cansava tanto.
Continuo a ler: Está a nascer uma nova doutrina, depois de Hitler e depois de Francis Galton.
Não suporto continuar com isto. Fecho a revista.
Por momentos volto a ser eu, na essência dessa mesma identidade mas também na diversidade em que desejo existir.
Quero continuar com os meus devaneios oníricos, com a capacidade de contemplar o “Chão do Pinheirinho” e escrever sobre isso, ser capaz de olhar a minha própria fealdade e por momentos achar formosas as mais imperfectíveis falhas.
A propósito fiquem lá com um bocadinho de Albert Camus:
Todos os pensamentos que renunciam à unidade exaltam a diversidade. E a diversidade é o local da arte. O único pensamento que liberta o espírito é aquele que o deixa só, certo dos seus limites e do seu fim próximo. Nenhuma doutrina o solicita. Ele espera o amadurecimento da obra e da vida. Separada dele, a primeira fará ouvir, uma vez mais, a voz levemente ensurdecida de uma alma para todo o sempre liberta da esperança. Ou nada fará ouvir, se o criador, cansado do seu jogo, pretende afastar-se. Tudo isso se equivale.