sábado, novembro 20

Um dia mau

O que nós não tentamos para contornar o fim. Tentamos a diferença, a singularidade, o etéreo, até um dia a Natureza tornar estéreis essas veleidades na fugacidade dum instante, como um soco no baixo-ventre.
Reinventamos tudo no espectro do acabamento, na angústia do aperfeiçoamento impossível.
Na passividade quase desistente dos meus dias, o mesmo desejo patético de notoriedade: Escrevo, penso-me diferente e quase chego a acreditar nessa singularidade.
Mas afinal quem sou? E de tudo o que sou, em que é que o sou mais? De repente pensar que há um tipo que sou eu, um rebotalho esparso e inconsequente de uma existência cheia de coisas vagas, inquieta-me.
E nesse resgate doloroso de uma vida sem fulgurâncias, o que é que em mim acabou muito antes do meu fim? Sim… o que é que perdura para além dos ossos que me sustentam?
Sentir-me assim, esvaindo-me no silêncio do abismo, na angústia do irrecuperável, no sopro tempestuoso da culpa, resta-me simplesmente ser. Há muito que me quedei no recosto dos meus limites, desistindo de ser mais nada para além disso.
Amanhã volto a escrever.

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