domingo, agosto 14

A desolação vista do Quénia

Sofro ao ver os socalcos negros da serra.
Pelos combros escuros desta paisagem triste e desoladora, conduzo serpenteando a estrada que se confunde no negrume das bermas.
Repouso por momentos nas águas límpidas do Agroal, no esquecimento impossível de quem lá se refresca, debaixo da ponte romana quase escondida na água, embiocada no xaile negro da montanha.
Desço até ao Vale Torno.
Ponho um CD de Mozart, uma sinfonia de profunda melancolia. Ouço o terceiro andamento, rápido em dó maior, grave, majestosamente grave. Paro por um instante, por necessidade, por uma lágrima, pelo som áspero e dramático da sinfonia.
Olho o vale, o casario sobrevivente, o xisto, uma jovem sentada num alpendre que me consente desconfiada. Mais em baixo um pouco de verde, único, resistente … A sinfonia é agora em sol menor, doce, subitamente doce.
Aumento o som do leitor. A única melodia que me apetece na desolação do meu olhar compassivo. Volto a olhar o único e sobrevivente combro verde e... Súbitamente o Quénia, o green de Windsor Golf and Country Club, os passeios de balão em Masai Mara, os leões, elefantes, leopardos e a música de Mozart que volta a ser grave, trágica, em si bemol maior.

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