segunda-feira, setembro 19

Novamente o boletim e a saudade do Outono

( escrito em 19/09/2004 )
Prefiro os dias outonais, em que as folhas rodopiam em círculos por entre as estátuas e os bancos dos jardins, ao vazio quente dos tristes dias estivais de Oliveira do Hospital.
Uma terra onde resistem ao descuido, sinais de identidade e história que nos conduzem à nostalgia. Indeléveis sinais de outra cidade, de outros tempos, com outros protagonistas.
Prefiro o Outono em Oliveira, pela sensação do regresso ao escuro, que a meu ver a favorece e lhe confere a sua verdadeira essência. O cheiro a chuva, a escuridão prematura, os silêncios, a evocação do antigo, o convite à poesia, tudo me ajuda a esquecer o marasmo a que votaram esta terra.
Sinais destes tempos, em que as grandes ideias autárquicas se resumem a um jardim, uma praia fluvial, um calcetamento, uma fonte. Oliveira desliza numa letargia enfeitada com flores, uma passividade extrema, sem acontecimentos nem expectativas, mas exemplar no adorno e na requalificação dos espaços.
Requalificar, reconstruir, repensar... O tal prefixo que pressupõe repetição e no contexto das minhas reflexões disfarça a incapacidade de fazer novo, construir ou mesmo pensar.
O problema nem é tanto a ideia do refazer melhorando, como é bom exemplo o esforço em repor a dignidade perdida a espaços tão belos como Avô. Grave é não fazer, triste é a sensação desconfortante de ver um concelho deambular num deserto de ideias, entregue a um destino incerto, sem a expectativa de nada de novo. Particularmente quando assistimos bem perto, por um lado à enorme vitalidade na criação de novos espaços que proporcionam eventos, por outro mesmo, a capacidade de os realizar: Feiras Internacionais, concertos sinfónicos, torneios desportivos internacionais, teatro de qualidade e dimensão nacional, exposições dignas desse nome, certames que resistem às dificuldades da conjuntura, etc...
São os espaços que proporcionam os eventos e nunca o contrário. Mas para isso é preciso criá-los e isso talvez seja pedir muito a uma gestão autárquica tão parcimoniosa.
Enfim, a inércia, quando dela se tem consciência, pode muito bem tornar-se uma inteligente estratégia da incompetência. De facto quando nos habituamos a não esperar muito, qualquer irrelevância se torna, pelo inesperado, uma grande obra.
Talvez isso explique tudo ou então socorrendo-me de Eduardo Prado Coelho quando evoca Duras, e fala acerca do seu fascínio pela passividade extrema e pelas personagens que não agem e se deixam expor na pura exaltação de existirem. Na mitologia da escritora, escreve Prado Coelho, seres assim têm na passividade uma força imensa, sendo mais enérgicos pelo que não fazem do que pelo que poderiam fazer.
Talvez resida aí o segredo de toda esta submissão silenciosa ao que se passa, ou melhor, ao que não se passa em Oliveira do Hospital.

1 comentário:

Anónimo disse...

asdasdda