sábado, outubro 2

Dissertações sobre uma Agenda Cultural

Atavios gráficos em que o autor é exímio tornam este livrinho encantador. A capa, a sobriedade das cores, a subtileza das cambiantes azuladas, conferem-lhe uma leveza condizente com a ligeireza do conteúdo.
No interessante design gráfico, impresso em papel cochet 135 gramas, ressalta o azul celestial com algumas estrelas cintilantes a despontar na indefinida linha do horizonte.
A visão irónica e subliminar do autor está expressa na hábil escolha das cores. Para colorir o início do trimestre uma cor forte: o vermelho. A cor do sangue, da vida, simbolizando a vitalidade na expectativa do anúncio das propostas culturais, mas também a cor da vergonha, que ruboriza as faces de quem ama a cultura e a terra onde vive e se desilude pelo vazio do anunciado.
Para Novembro e Dezembro novamente o azul. Um azul que começa forte, colorindo a esperança mas que rapidamente se matiza num azul-marinho, onde a mesma se afoga.
Sobre o amarelo pálido, desmaiado do IOR 80 gramas que compõem o interior deste fantástico livrinho, folheiam-se as desilusões e defraudam-se as expectativas logo de início. Por baixo das cambiantes violáceas do cabeçalho, evocando as cores do Município, destaca-se o sorriso e a gravata do edil. Não é por acaso que o seu assessor de imagem lhe terá sugerido para a mão direita uma caneta branca pousada curiosamente na mesma alvura dos papéis.
Terá sido sobre aquela secretária e num daqueles papéis brancos, que o autarca terá feito o rascunho das suas brilhantes notas editoriais, onde o próprio refere com particular destaque o Ciclo de Teatro do Outono. Numa excelente estratégia de planificação da política cultural da edilidade, as peças que darão forma ao evento, surgem referidas como a designar para que o factor surpresa lhe confira um brilho especial e faça estalar as castanhas na boca dos espectadores. O mesmo fruto de cúpula esférica e espinhosa do nobre castanheiro, que o responsável pela composição do livrinho, utiliza como adorno gráfico no anúncio dos inúmeros magustos e festas da castanha, um dos principais eventos do trimestre, não esquecendo os vários torneios da sueca que proliferam por essas aldeias fora.
Então se eu soubesse, não poderia ter tirado a minha querida Digueifel do anonimato?
Em próximas edições da Agenda Cultural vou aceitar o desafio do Presidente. É que o bar da Associação da minha pacata aldeia é frequentado, seguramente, pelos melhores jogadores de sueca do concelho.

J. Nobre


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