domingo, junho 5

O Realejo e as leituras de fim-de-semana

Passei por cima das medidas para combater o deficit, da polémica da acumulação de pensões e do seu peso político, dos espadas dos magistrados, do Não da França e da Holanda, e parei no realejo.
Que bela ideia a da Margarida. Chamou-lhe ‘Bibliambule’ e é um simples carrinho que transporta pela rua, palavras que ela oferece em voz alta.
Também lá vai o realejo evocando os músicos de rua, e esta simpática ideia de oferecer palavras, necessitou da sua manivela. A deambulação da palavra evoca o passeio ocioso dos músicos pelas vielas mais escondidas da vida.
Uma espécie de Barberi da poesia. Ao rodar a manivela ouve-se o acorde das palavras e nesta aparente alucinação quixotesca, Margarida encontrará certamente pelo caminho um ou outro Sancho Pança, mas tal como D. Quixote a sua paixão é bem maior que o medo do delírio.
Chamem-te louca e não te importes porque o desalinho é nos dias de hoje um sinal de inteligência.
As palavras, Margarida, nunca são excessivas.
Excessivo é o outro deficit.
Não receies por isso oferecer palavras porque essa gratuitidade nunca fará aumentar a despesa. No orçamento da poesia a receita é sempre superior.
Joaquim Nobre
2005/06/05

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