quinta-feira, dezembro 16

Precisei de lá voltar

Ao sítio que dá sentido ao pouco que me resta e me faz sentir o que ainda sou, para além dos despojos que só aguardam o fim.
Desta vez levei algum tempo para me distrair do olhar compassivo da natureza. O murmúrio da ribeira, o queixume das folhas, o ruflo das aves, soavam a gritos resmungados de acusações ininteligíveis. Mas ao menos ali, na quietude daquele lugar, a dor é mais suportável e a culpa torna-se redimível pela evocação da felicidade na lonjura do tempo.
Olho-me com piedade, pelo desleixo e degradação, mas ali, no Chão do Pinheirinho consigo imaginar-me pequeno, irrequieto mas feliz. Com a agilidade para desafiar o perigo, correndo de levada pelos muros da ribeira, numa alegria esfuziante, capaz de me levar ao choro, só de o lembrar.

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