quinta-feira, setembro 16

Atalhos

Luto todos os dias contra a vontade de me ir embora.


Aqueles momentos de paz e tranquilidade que imagino num lugar distante, parecem-me sempre impossíveis quando pesados os prós e os contras, como numa balança na qual um dos pratos tem a fuga e outro os valores éticos.
O ponteiro aponta o meio onde não está a virtude. Um ponto zero no seu lugar. Recomeçar o percurso depois da escolha errada. Depois dos atalhos trocar o incerto pelo certo.
Hoje poderá ser o último dia do príncipio da minha vida. Ou melhor da primeira parte.
Como quem vai fumar um cigarro no intervalo de um filme.
Momento zero.
Talvez ainda seja possível. Fazer um 'scandisk',escolher os 'files' que não interessam e mandar tudo para a 'reciclagem'. Revê-los na esperança de alguma coisa que ainda valha a pena e apagar o que não interessa num 'delete' definitivo e irreversível. Talvez...
Nesta convulsão que me assola a cabeça olho súbitamente para a minha mão e reparo que ainda me falta uma passa das doze. Um ritual patético que se faz todos os anos. Não me lembro que onze desejos eu pedi.Provávelmente nenhum.Sobrou uma. Nunca me perdoaria não cumprir uma promessa. Seria aliás impossível.De repente dou conta que mesmo no pressuposto do tal 'delete', haveria afinal um ficheiro inacessível. Um bip estridente e a mensagem de 'access denight'. Um ficheiro que guardava, solidariedade, paixão, amizade, livros, lágrimas, sofrimento, arrebatamentos, sei lá o que mais ...
Talvez não queira que seja possível.
Coloco lentamente a última passa na boca.
Não podia ter passado melhor o ano.

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